quarta-feira, 6 de abril de 2011


Da varanda do apartamento observava sem muita inquietação os carros. Não pareciam lhe interessar as pessoas e muito menos a paisagem. Era apenas aos carros que olhava. Não estava procurando por um carro específico que contivesse dentro dele uma pessoa específica. Também não fazia nenhum jogo mental para passar o tempo no que via, apostando o numero de taxis a cada sinal fechado ou tentando enumerar todos os modelos parados antes que o sinal abrisse. Seus olhos um pouco cansados começavam a ficar irritados por aquele neon vermelho constante, mas manteve-se ali plácido aos poucos esquecendo, a irritação apesar de não o incomodar começava a distraí-lo um pouco, por que vir se debruçar na varanda para olhar os carros tinha sido a primeira coisa que fez ao voltar a sua antiga casa após tantos anos.

Se debruçando na grade mesmo, de maneira que sua mãe torceu nariz ao vê-lo daquele jeito displicente, que ela já imaginava meu-filho-caindo-do-alto-do-quarto-andar, olhando para a rua lá embaixo, rua que pelo movimento deveria muito bem ser chamada de avenida, e que de tão avenida estava atrasando a surpresa que ela acha que conseguiu não estragar ao ligar pro seu marido e perguntar casualmente, ela espera (apesar de que jamais liga pra ele no fim do expediente), se ele já estava saindo do trabalho e se ia demorar, rua que ele não tinha que ficar a tarde inteira desdequechegou olhando quando sua mamãe que ele não via há tempos precisava tanto dele. Isso tudo ela falou pra ele na sua cabeça, mas sem que o seu filho sequer percebesse que ela estava ali atrás dele não havia a menor chance dele se mover um só centímetro, mas que maldade vem de tão longe e nem pra me dar um abraço direito na mãe?. Ele não era mais aquele garoto que ela podia simplesmente mandar pra cima e pra baixo sem correr o risco dele desobedecer. Ele já tinha mais de trinta anos e doía isso nela.

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