quarta-feira, 4 de agosto de 2010

2.

Até agora as coisas ainda não trataram de ficar claras, pelo contrário, continuam obscuras e ofuscadas como se a minha memória houvesse sido registrada por uma velha câmera lomo. Tudo está borrado, as cores estão trocadas e não consigo olhar bem nos olhos das pessoas sem me perder no lusco fusco do papel, sem me perder como me perdi durante aqueles dias naqueles olhos, sem me perder como sempre quis me perder. Hoje estou perdido também, mas não mais entre seus braços. Perdido nessa banheira quente que em pouco tempo deixará minha pele tão enrugada quanto meu espírito, das tantas dobraduras que levou nas semanas que se passaram desde que conheci

1.

Almost blue. Aquelas notas já não soavam mais como antes. Se antes meus ouvidos não desgrudavam daquele trompete que enchia as noites com a seu melancólico, mas potente, sopro, nesse momento, sim, deitado, espreguiçado e esgarçado nessa hidro, sozinho, só consigo escutar a vassourinha se arrastando pela bateria, se arrastando como o meu corpo por essa piscina. Por essa piscina vazia. E afinal, não faz tanto tempo assim, faz? Não faz tanto tempo que pude sentir seu cheiro sobre meu corpo, me cobrindo com sua pele, roçando os meus pelos e enlouquecendo os meus membros. Não, não faz muito tempo que ela se levantou ao início da manhã vestiu-se pôs a bolsa embaixo do braço e pegou um pão dos que a senhora Marilene deixa na cozinha para que eu possa tomar meu café da manhã sob o meu silêncio e saiu pela porta da frente. Não, não faz mais do que uma semana que acordei sozinho nessa casa após noites e noites de insônia forçada.