sábado, 18 de dezembro de 2010

Amor

Eu vejo. Eu vejo isso tudo e fico feliz. Fico feliz de finalmente saber aquilo que quero, não que eu não sabia antes, não que eu não tinha sentido isso antes mas é que cada vez que eu sinto, me bate uma emoção no peito, me bate uma vontade de gritar pro mundo e dizer que eu quero isso, eu quero tudo isso, eu quero poder dizer isso. A vida é muito boa, ela nunca me deixa de encantar (e de entristecer) e é isso que eu quero fazer: é o amor que eu tenho por ela (por vocês) que eu quero dizer, dizer sempre, com todas as vozes possíveis, a minha, a tua, a de todos vocês que eu amo, que me ajudam a viver e que me fazem ver. Quero guardar para sempre tudo isso que fizemos. quero marcar. não por que merecemos (não somos extraordinários) mas por que alguém precisa guardar tudo isso que (nos) acontece. Eu não sou o único, nem o último a fazer isso e isso realmente não me importa. O que me importa é esse pulso que tenho, que me faz querer dizer para todos vocês que amo vocês. E que a minha maneira de dizer eu te amo é essa.

:)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A bailarina de Degas


As bailarinas terminavam de se alongar após o ensaio enquanto um homem, já acima da meia idade, esperava numa das cadeiras da primeira fileira. Quando chegou não faltava muito para o ensaio terminar, talvez uns quarenta minutos, tempo o suficiente, porém, para que não aguentasse o cansaço e dormisse ali mesmo, naquela cadeira da primeira fila. Nenhuma das bailarinas se importou verdadeiramente com aquilo, apesar de algumas trocarem comentários de censura só por hábito, exceto àquela que era esperada. Ela que resolveu aproveitar o sono dele para, além de trocar de roupa, dar um retoque na maquiagem, um pouco desgastada pelos movimentos do balé, antes que saíssem para o jantar, não hesitou, portanto, em despedir-se das companheiras rapidamente e correr de volta para o camarim.

A idade começava alcançá-la. Ainda que, só agora ela começasse a perceber como as covinhas que tinha no canto da boca eram substituídas lentamente por rugas. Era ainda, sem dúvida, uma mulher muito agradável de se ver, ainda que não fosse o que se chama comumente bonita: seus lábios grossos, sua pele não suave, pelo contrário, como se cada expressão que fizesse deixasse uma camada a mais em sua pele, seus olhos sempre-os-olhos esbugalhados que denunciavam um cansaço que nunca estava de acordo com o sua habitual disposição. Um rosto que nenhum homem que passou pela sua vida iria se esquecer (apesar que de seu corpo nenhum lembrava mais).

Ela nunca se esquecia do que seu marido lhe dizia quando tomava um pouco de uísque, quando se punha a falar de todas as mulheres que tivera na vida (ela sabia que até nesse mesmo instante ele não havia aceitadoa ainda a monogamia), que jamais quisera, apesar de que oportunidades não me faltaram!, se meter com aquelas metidas a modelo. Não que ele fosse daqueles que gostava de mulheres feias, por serem feias, não, isso não. Ele apenas preferia que as suas mulheres tivessem certas falhas, não muitas: uma pinta mal colocada, um nariz mais achatado, dentes desalinhados, coisas assim, pequenas, mas que davam para ele  uma sensação maior de equilíbrio. Balela, ela não esquecia mas também não acreditava. Sabia que a razão em preferir as “falhadas”  era que achava que isso melhorava a foda.

(...)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Cena(s) de uma(s) vida(s) #1


Em seus olhos havia apenas um vazio. Sentada, na quina da cama, a beira de um colapso mental a qualquer momento, tentava arranjar forças para se levantar para se levantar. Para que não é importante – ainda que ela já estivesse alguns minutos atrasada para o seu trabalho. Parecia, no entanto, que enquanto seus olhos permanecessem ausentes, enquanto eles não voltassem de onde tivessem ido onde? ela permaneceria ali, ainda que se levantasse, ainda que chegasse ao trabalho na hora certa por sorte de chegar ao ponto de ônibus na hora em que o ônibus chegasse, ainda que voltasse para o calor de seu lar após um duro dia de trabalho, ainda assim, jamais teria saído, nem por um segundo, daquela quina da cama onde o que fazia?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

2.

Até agora as coisas ainda não trataram de ficar claras, pelo contrário, continuam obscuras e ofuscadas como se a minha memória houvesse sido registrada por uma velha câmera lomo. Tudo está borrado, as cores estão trocadas e não consigo olhar bem nos olhos das pessoas sem me perder no lusco fusco do papel, sem me perder como me perdi durante aqueles dias naqueles olhos, sem me perder como sempre quis me perder. Hoje estou perdido também, mas não mais entre seus braços. Perdido nessa banheira quente que em pouco tempo deixará minha pele tão enrugada quanto meu espírito, das tantas dobraduras que levou nas semanas que se passaram desde que conheci

1.

Almost blue. Aquelas notas já não soavam mais como antes. Se antes meus ouvidos não desgrudavam daquele trompete que enchia as noites com a seu melancólico, mas potente, sopro, nesse momento, sim, deitado, espreguiçado e esgarçado nessa hidro, sozinho, só consigo escutar a vassourinha se arrastando pela bateria, se arrastando como o meu corpo por essa piscina. Por essa piscina vazia. E afinal, não faz tanto tempo assim, faz? Não faz tanto tempo que pude sentir seu cheiro sobre meu corpo, me cobrindo com sua pele, roçando os meus pelos e enlouquecendo os meus membros. Não, não faz muito tempo que ela se levantou ao início da manhã vestiu-se pôs a bolsa embaixo do braço e pegou um pão dos que a senhora Marilene deixa na cozinha para que eu possa tomar meu café da manhã sob o meu silêncio e saiu pela porta da frente. Não, não faz mais do que uma semana que acordei sozinho nessa casa após noites e noites de insônia forçada.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Olhar de clepsídra (ver. 2)

Seu olhar de clepsídra. Seu olhar que sempre acusava uma despedida. Sabia, nunca tinha sido novidade para ele que um dia iria embora, ela teria inclusive dito isso para ele no primeiro encontro dos dois. Mas não precisava ter dito nunca. Não era necessário saber, quando se conheceram, que em um ano embarcaria para o doutorado em Nova Iorque. Isso nunca foi necessário. Bastava apenas alguns minutos com ela para enxergar que os momentos que ela passava contigo eram sempre medidos por uma lembrança futura; fossem bons momentos já se podia enxergar a saudade que a assombraria mais tarde, fossem não tão bons transpirava a sua ansiedade, quase dizendo que-eram-por-momentos-como-esse. E a cada encontro que tinhamos sempre encontrava aqueles olhos levemente marejados de espera. Não acho, nem nunca achei, que ela fazia isso de propósito, mas era transparente. Podia enxergar esse destino em todos os seus atos, todas as suas palavras e até em seus tiques que só eu aprendi a reparar durante o tempo que passamos juntos. Não sei se conseguiria dar um tom para essa despedida. Ela sempre me falou muito pouco disso e não consigo me decidir se era o medo ou a ansiedade que imperavam. Não tenho dúvidas de que sobre ir ela estava certa, parecia só saber, sentir isso, essa necessidade.

E a cada dia que se aproximava enxergava mais nitidamente. Por mais que ela não quisesse que isso fosse verdade. Enxergava que não havia espaço para mim em Nova Iorque.

~

E a cada dia que se aproximava mais azuis ficavam seus olhos. Até aquele dia no aeroporto. A clepsídra chegava ao seu fim e soltava a última gota d’água sob o meu ombro. E do meu ombro a última gota escorria para a minha mão. E da minha mão a última gota escorria e molhava a passagem que eu segurava e que a segurara.

~

E os meus braços apertavam o seu corpo com toda a força. Os mesmos braços que, num último movimento, giravam essa clepsídra para que ela tornasse a correr de novo. correr sem fim. ao meu lado.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Olhar de clepsídra

Seu olhar de clepsídra. Seu olhar que sempre acusava uma despedida. Sabia, nunca tinha sido novidade para ele que um dia iria embora, ela teria inclusive dito isso para ele no primeiro encontro dos dois. Mas não precisava ter dito nunca. Não era necessário saber, quando se conheceram, que em um ano embarcaria para o doutorado em Nova Iorque. Isso nunca foi necessário. Bastava apenas alguns minutos com ela para enxergar que os momentos que ela passava contigo eram sempre medidos por uma lembrança futura; fossem bons momentos já se podia enxergar a saudade que a assombraria mais tarde, fossem não tão bons transpirava a sua ansiedade, quase dizendo que-eram-por-momentos-como-esse. E a cada encontro que tinhamos sempre encontrava aqueles olhos levemente marejados de espera. Não acho, nem nunca achei, que ela fazia isso de propósito, mas era transparente. Podia enxergar esse destino em todos os seus atos, todas as suas palavras e até em seus tiques que só eu aprendi a reparar durante o tempo que passamos juntos. Não sei se conseguiria dar um tom para essa despedida. Ela sempre me falou muito pouco disso e não consigo me decidir se era o medo ou a ansiedade que imperavam. Não tenho dúvidas de que sobre ir ela estava certa, parecia só saber, sentir isso, essa necessidade.

E a cada dia que se aproximava enxergava mais nitidamente. Por mais que ela não quisesse que isso fosse verdade. Enxergava que não havia espaço para mim em Nova Iorque.

~

E a cada dia que se aproximava mais azuis ficavam seus olhos. Até aquele dia no aeroporto. A clepsídra chegava ao seu fim e soltava a última gota d’água sob o meu ombro.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Arremedos


Diário – dia 13 de junho

Hoje o enterro foi duro. Não que eu tenha sido próximo dele, nunca fui – mas sempre quis. O Júlio teve essa sorte.

*

Leitura da noite: Coração tão branco.

Diário – 14 de junho

Leitura da noite: Coração tão branco.

Diário – 15 de junho

Fico me perguntando até que ponto vou conseguir continuar morando com a mamãe. Já não me sinto mais em casa, não consigo, passo os dias arranjando desculpas para sair, até para fazer coisas bobas que só me vão dar cinco minutos de distância como comprar pão na padaria. Minha mãe não entende, fica apenas me olhando com aquela cara de bocó, e desde que o pai dela morreu as coisas parecem ter piorado ainda mais. Gasta seus dias de aposentada vendo novela.

*

Ontem me peguei mais uma vez sentindo saudades de lembranças que não eram minhas. Eu sei que é feio, eu sei que é triste, mas eu me sinto tão bem. Já não sou uma pessoa de acontecimentos, então quando consigo me agarrar a algo é difícil soltar. Ainda que não seja meu, ainda que seja mentira.

*

Leitura da noite: Alguns contos do Tchekhov.

Dia – 16 de junho

Não sei como aguento essa vida nos outros.

*

Meu orientador me mandou um e-mail hoje pedindo a minha volta ao projeto. Falou que poderia estudar o que queria mas ele não entende. Não me importa se estou estudando Homero ou Beckett, Dostoiévski ou Goethe o que importa é que ele não consegue enxergar o que faz esses autores são grandes. Já perdeu o poder de se comover. Mas sou eu quem vou falar isso pra um professor titular da UFRJ?

*

As vezes me esqueço por que escrevo, fico alguns dias, semanas até, sem encostar o dedo na caneta, mas depois que a largo vêm aquela êxtase, e pode ser a maior porcaria do mundo, mas ao menos foi um filho que eu pari. Que alívio, posso dormir em paz hoje.

*

Leituda da noite: Coração tão branco.

Momento qualquer


E sua mente, por isso mesmo, nunca conseguia ficar parada. Havia sentado ao lado de uma menina, não era lá muito bonita, pensava, mas o suficiente para que pudesse se interessar, e ainda carregava no colo, ainda que não estivesse lendo, aquele volume de cartas do Tchekhov que a Penguin havia editado. Dá vontade de falar com ela só pra pedir pra ver o livro. Mas não, ela não lia, então não podia nem pescar algo, qualquer coisa, no livro. Ficaram sentados um ao lado do outro do Flamengo à Uruguiana onde trabalhava. Não consigo deixar de ter impressões durante essas situações. É como se meu braço começasse a formigar, como se adquirisse, além de uma sensibilidade hiper-exagerada, uma capacidade de interpretar e dar sentido ao menor toque. Sim, você também está só, como eu, também quer conforto, carinho, mas que ninguém veja esse nosso encontro aqui no ônibus, pois você tem medo, medo de que te olhem torto por pedir conforto a um homem, um desconhecido, mas um homem. Eu entendo, eu sei que você não pode, que não poderemos nem nos olhar diretamente, só poderemos nos esbarrar, nossas pernas, nossos braços e soltar alguns pequenos gritos silênciosos, com licença, você sentou sem querer na alça da minha mochila, por-favor-fale-comigo; Ah! me desculpe, não havia percebido, estou-aqui-pode-segurar-minha-mão. Obrigado, por-que-você-demorou-tanto; Não tem de que, te-procurei-por-toda-parte.É o meu ponto, me-siga-por-favor-quero-não-consigo-continuar-sem-você, se você puder me dar licença, por favor; claro, não-há-nada-que-queira-mais. Mas não consigo, minhas pernas se prendem ao chão e vejo-a escapar dos meus dedos sem nem ter olhado para seus olhos direito. Mas para o mundo de fora nada acontece. nada, para quem não está lá, para quem não sofreu a dor da partida, eram apenas dois estranhos. Chegava ao seu trabalho sem acontecimentos pronto. Pronto.

domingo, 24 de janeiro de 2010

I know not what tomorrow will bing


O bilhete não era longo, por isso não demorou muito para que terminasse a sua leitura. Ficou parado alguns instantes na soleira da porta, ali mesmo onde havia encontrado essa pequena e curta nota de despedida. Leu-a ali mesmo, já pressentia o que estaria escrito, só não tinha idéia de como isso iria acontecer. Levantou-se em direção a cozinha. Não, não há nada que vá servir na geladeira, talvez se eu me sentar um pouco. Tudo isso com o bilhete ainda na mão. Não amassado como se esperaria de uma notícia, não, ainda estava ali, sem nenhuma dobra, como se não houvesse sido lido ainda, como se as palavras não tivessem tomado sentido ainda. Como se ela ainda pudesse voltar por aquela porta e dizer que na verdade ela o amava muito e que se ela teve uma noite com o Cláudio foi apenas para ter certeza de que ainda o amava, me amava. Voltou-se de novo para a geladeira mas dessa vez sua mão foi direto para a garrafa de uísque que havia. Pegou um copo de bica qualquer, jogou duas pedras de gelo e se serviu uma dose. Havia aprendido a tomar uísque com seu pai, havia começado a beber com seu pai, foi ele quem iniciou-o nessa arte quando mãe e mulher abandonaram pai e filho por um suposto artista de teatro, diretor, ator sei lá o que. Quando minha mãe nos abandonou, meu pai estava me ajudando com o vestibular, estavam e ajudando a entender Pessoa, ah Pessoa, o homem que pra fugir de seus problemas se multiplicava, se dividia. Sabe, filho, disse meu pai, preparando com a maior naturalidade duas doses de uísque, quando o Fernando Pessoa esteve internado no hospital, um dia antes de sua morte, sua útlima frase foi: I know not what tomorrow will bring. Estendeu-me o copo e sem nem saber o que devia fazer, nunca havia posto uma gota de alcóol na boca, viramos o copo ao mesmo tempo. Foi aí que começou, tudo começou e tudo terminou. Eu e meu pai, que tinhamos como laço o amor pela poesia, ele Pessoa e eu Rimbaud, após a noite que mamãe nos deixou mudamos nossos hábitos. Fizemos como Rimbaud e Pessoa: não haveria mais uma noite em que tomássemos uma, duas, três, quatro, quantas fossem as doses de uísque. Sentou-se na poltrona da sala onde costumava ler, cautelosamente, para não derramar a bebida, e sem esquecer de apoiá-la num descanso. O bilhete ainda na outra mão, esperando ser relido, querendo ser relido, querendo ter outras palavras. A garrafa!, pensou e levantou-se rapidamente, com o bilhete sempre na mão, e pescou de seu gabinete de licores a mesma garrafa de onde tinha posto sua dose, apoiou-a no descanso e sentou-se novamente, confortavelmente na poltrona. Estendeu o bilhete a sua vista, pegou seus óculos de leitura, que usava há vinte minutos, antes desse bilhete chegar. Luisa havia ido embora ontem, mas ainda restava-lhe uma esperança, algo ainda o mantinha nadando, lutando. Por isso, na hora da espera resolveu reler alguns contos de Tchekhov. Livro surrado de tanto que havia lido e relido, especialmente em momentos de crise, tristeza, para quem sabe, resgatar um pouco de esperança em seu peito. Botou os óculos e leu:

Já não consigo mais. Me desculpe, eu sei que você fez de tudo, mas não dá. Não aguento mais, não te aguento mais. Te amarei sempre, sempre. Mas não – adeus Fernando.

Boa sorte,
Cláudia.

Abaixou o bilhete e respirou fundo. Dessa vez não ficou tão imóvel quanto da primeira vez que leu, o bilhete não havia mudado, não havia uma declaração de amor, continuava a despedida. Soltou o suspiro. Virou o copo de uísque e estendeu o bilhete de novo a vista:

Já não consigo mais. Me desculpe, eu sei que você fez de tudo, mas não dá. Não aguento mais, não te aguento mais. Te amarei sempre, sempre. Mas não – adeus Fernando.

Boa sorte,
Cláudia.

Uma lágrima agora descia de seus olhos e a cada palavra que havia lido não encontrava o  amor, a palavra até estava ali, a expressão te amarei sempre, sempre. Mas e esse mmas matava, o matava, tirava lascas de sua pele. Encheu mais uma dose e entornou-a. Mais uma vez leu o bilhete:

Já não consigo mais. Me desculpe, eu sei que você fez de tudo, mas não dá. Não aguento mais, não te aguento mais. Te amarei sempre, sempre. Mas não – adeus Fernando.

Boa sorte,
Cláudia.

As lágrimas começaram a sair com mais força, mais furos haviam sido feitos por aquelas palavras, palavras dolorosas. Não vemos suas pontas agudas até o momento em que elas nos ferem, nos tiram sangue. Mais uma dose:

Já não consigo mais. Me desculpe, eu sei que você fez de tudo, mas não dá. Não aguento mais, não te aguento mais. Te amarei sempre, sempre. Mas não – adeus Fernando.

Boa sorte,
Cláudia.

Desatou em choro, não aguentou, seu corpo agoniado, doído, o bilhete finalmente não sobreviveu, amassou-o e jogou-o contra a parede. Mas era papel, não foi muito longe, nem teria forças para isso. Soluçava e gritava seu nome em desespero. Cláudia hic Cláuhicdia. Clááááááááááudia. Se debatia no chão, jogava seus punhos contra o chão. Dessa vez virou a garrafa, deixando-a rolar pelo piso em seguida.

Já não consigo mais. Me desculpe, eu sei que você fez de tudo, mas não dá. Não aguento mais, não te aguento mais. Te amarei sempre, sempre. Mas não – adeus Fernando.

Boa sorte,
Cláudia.

Não queria mais saber de amanhã.